Novo espaço para se pensar e discutir a dinâmica do mercado e das marcas de luxo, dos produtos e serviços com alto valor agregado e para todos aqueles que se interessam pelos temas do consumo e novas tendências, moda e estilo, design, branding e marketing. O crescimento e a valorização do luxo é uma questão central do consumo contemporâneo e faltam especialistas e espaços para discutir este tema com seriedade.

Thursday, August 10, 2006



O Luxo na Antiguidade



O significado do luxo varia historicamente. O acesso ao fausto e ao luxo sempre foi um privilégio e uma benesse.
No princípio era a reciprocidade, depois vieram a paixão e os cuidados de si. A arqueologia do luxo não começa com a fabricação de bens de preço proibitivo e nem com campanhas publicitárias ou editoriais da Vogue, mas com o espírito da oferta. Antes da tesourização, veio uma disposição culturalmente celebrada: a necessidade de transcendência através da troca, que obedecia a códigos precisos e cerimoniais obrigatórios em tornos de concepções e sentimentos mágico-religiosos. Não era uma mera troca econômica de bens, mas o Kula, uma troca aparentemente desinteressada, sem ganho material. Isto que marca o luxo ancestral. Não havia uma necessidade econômica natural de consumo. A oferta suntuária e primitiva é uma regra cultural, um imperativo coletivo de significações míticas, marcado pelo ato ritual de dar e receber generosamente.
Este primeiro momento da arqueologia do luxo marcava um período de predominância das relações dos homens entre si, período anterior de uma nova ordem que perdura até hoje, um mundo marcado pela relação dos homens com as coisas ou mais especificamente uma ordem materialista de relações humanas mediadas por objetos-mercadorias. A estima social e as posições de prestígio eram decorrências das ofertas de dádivas nos rituais e cerimoniais, distribuição de bens e gastos ostentatórios com as festas e banquetes. O carisma e o prestígio dos chefes tribais advinham desta disposição cultural: de preparar as oferendas, patrocinar as festas e de desafiar outros chefes e consumir, queimar ou mesmo jogar ao mar seus bens mais preciosos. A crença mítica que sustentava o 'potlach' era a idéia que a destruição suntuária do luxo e dos bens de valor significava a pouca importância destes bens materiais. O que tinha valor era o “elemento social e espiritual” da generosidade e da troca, do prestígio conferido na circulação e consumo das riquezas. A abundância de bens e riquezas não significava em si poder, nem a necessidade de acúmulo ou prestígio em si mesmo, mas sim presentear e retribuir de forma pródiga.
Na antiguidade, havia umaligação direta entre os deuses elevados, com os poderosos déspotas que organizavam a sociedade. A ordem política se impunha como ordem de essência divina e seus mandatários tinham o direito legitimo de viver uma vida de opulência e luxuria. Honrar os deuses cósmicos era garantir uma vida de luxo, festas e banquetes, em vasilhas de ouro e prata, presentes preciosos e roupas de luxo. Esta nova ordem dava aos reis regalias de deuses, uma vez que eram encarnações divinas, mediadores entre o universo visível e os poderes celestiais. Esta introdução da dimensão sagrada no universo humano, criou as condições de uma nova inscrição social do luxo. Os palácios de estilo monumental dos reis utilizavam materiais raros e nobres e eram decorados com luxo, bom gosto e esmero. Um ótimo exemplo são as arquiteturas funerárias egípcias. As pirâmides que eram ornadas com a máxima sofisticação e suntuosidade guardavam, em seu interior, os tesouros dos faraós. Ali seria o local de regeneração divina para que os faraós pudessem promover a prodigalidade aos vivos. Era um luxo necessário como necessidade de uma vida de fartura no futuro.
O luxo não era um objeto de contemplação, mas instrumento mágico de acesso à abundância e a vida eterna. Ele recriava as criações da beleza divina nos tempos primordiais. As imagens de riqueza, abundância e festividade estavam associadas ao espetáculo da dilapidação e da prodigalidade e reafirmavam a hierarquização do mundo. Os grandes adquirem glórias e honras, manifestando poder e superioridade. Ser nobre significava consumir e usufruir

0 Comments:

Post a Comment

<< Home