Fetichismo do Luxo
Adoro umas metáforas sobre as mercadorias criadas pelo filosofo alemão de origem judia, Walter Benjamim. Ele dizia que as mercadorias eram como narcóticos que levavam o indivíduo a suspensão da realidade. Uma espécie de droga alucinógena que suspendia do real e nos transportava para um mundo de fantasia.
As vitrines, lojas de departamento, os fashion malls (ou os shoppings se já existissem) na época eram o "labirinto dos sonhos".
Em outra metáfora, lembrando o velho Marx, Benjamim dizia que a as mercadorias tinham a mais simpática e sedutora das almas, e lançavam olhares lascivos e apaixonados para os compradores, como numa relação de paquera e sedução.
Mas eram como altares e as mercadorias mais nobres e de luxo só podiam ser veneradas e comtempladas. Os sinais informavam que era permitido admirar e se seduzir, mas não se podia imacular ou retirar a aura e a distância que estes objetos mantinham com o espectador. Só o compra garantiria a posse e o uso, a intimidade privada com o objeto e a exclusividade de suas propriedades únicas e de seu prestígio. "Look, but dont touch!" alertava a sinalização. Bem diferente dos produtos populares das feiras públicas e do cotidiano do consumo do povo. O luxo é sagrado, e deve ser protegido nas alturas do altar e deve ser reverenciado como obra de arte.
Mas há um jogo de sedução entre cliente e mercadoria. Um jogo de espelhos e projeções do desejo. Ela promete cumprir necessidades e fantasias eu me inebrio e acredito nas suas forças metafísicas. Assim é nas telas e na publicidade. Um faz de conta admirável que me faz sonhar e dormir. Tal como as crianças com amãe á beira da cama lhes contando histórias fantásticas.
E quantas vezes não brincamos dizendo que as mercadorias nos seduzem, nos chamam a atenção, que nos conquistam? quem já não olhou pra um display ou uma vitrine e não se deparou com alguma coisa que adorou e parecia ouvir uma voz interior na consciência dizer
“Vá, entre logo, me leve pra você!”.
Parece uma relação intima e secreta que se estabelece entre produto e consumidor. As promessas de prazer e felicidade estão em todo lugar: no design e nas formas, na embalagem, na etiqueta da marca, no decor e layout da loja, no status e na moda. Como não se deixar levar...como ficar imune? quase impossível!
As mercadorias seriam como as prostitutas, que se enfeitavam, se produziam e ficavam nos locais mais apropriados, na passagem de seus clientes lhe oferecendo prazer e satisfação imediata em troca de parte de seu dinheiro. As mercadorias seriam assim, a própria encarnação do desejo sexual, uma energia tão forte como a libido impulsiona os clientes a entrar nos shoppings e pagar caro pelos seus obscuros objetos de prazer e status. A mercadoria tem mil faces e ardis...e muito difícil não sermos capturados pelo sedutor canto das sereias.
Na verdade somos uma sociedade cuja grande religião é o consumismo e nossso grandes templos são os shopping centers e os altares as vitrines, onde veneramos e adoramos nossos deuses; as mercadorias e marcas.
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